sábado, 13 de junho de 2009

MUSEU A CÉU ABERTO: uma nova concepção do expor





Por Flávio Fernandes Vasco

Giulio Carlo Argan menciona em seu livro “A história da arte como história da cidade” as palavras de Lewis Mumford: “A cidade favorece a arte, é a própria arte”, ou seja, ela não é apenas um invólucro ou concentração de produtos artísticos, mas uma obra de arte por si mesma. A cidade real, “reflete as dificuldades do fazer a arte, ao mesmo tempo em que reflete também as circunstâncias contraditórias em que ela se faz.” As diferentes formas de arte constituem um sistema em que, todas juntas, tornam a cidade o campo de concentração cultural onde tudo se tenta, tudo se faz. Neste contexto, a cidade entra como palco, cenário e platéia da manifestação artística.
No mesmo livro, Argan já vinha identificando uma nova diretriz para a arte (ou crise, como ele denomina) que hoje se torna mais claro que nunca, em que os produtos das artes se inserem num contexto cultural contemporâneo dominado pela ciência e pela tecnologia a ponto de terem de ser sustentados por uma ciência da arte, que na realidade é o que se tornou a história da arte. Assim, observa-se que a fruição da arte, até então imediata, torna-se mediada de maneira científica pelas teorias acadêmicas, criando uma dificuldade objetiva de inserção de uma cultura essencialmente artística com o meio científico e tecnológico estabelecido. A inquietação de Argan reside nas perdas relevantes e talvez irremediáveis que tal situação poderia acarretar naquilo que chamamos patrimônio artístico.
Por outro lado, enquanto a arte assim se desenrola, um grande contingente de “desenhistas”, “ilustradores” e “grafiteiros” produzem silenciosamente sua arte, sensível e intrinsecamente ligada ao contexto urbano, com espontaneidade muito mais próxima da pintura mural (uma das mais antigas formas de expressão artística) do que das artes acadêmicas. Desenvolvem-se de modo relativamente independente desta e mantém ainda um pouco do imediatismo perdido por ela. A idéia passa pela discussão em curso sobre as possibilidades e distorções a que a arte urbana é submetida quando da sua transposição para o espaço de uma galeria por um lado e por outro, de sua possibilidade de permanência no contexto urbano através das suas inúmeras formas de expressão e representação.
Longe de chegar a conclusões concretas sobre a arte urbana, a discussão que aqui se levanta é em relação às diversas formas de manifestações consideradas artísticas, que são fruto de experiência, vivência e necessidade de expressão. Algo parece fazer sentido quando projetamos nossos olhares aos diversos elementos constituintes da cidade. Há expressões diversas nos muros, nos prédios, nas ruas, nas praças, nos pontos de ônibus, nos letreiros, nos outdoors, entre outros, além dos valores imateriais como a música, a cênica e a dança, também percebidos na imagem da cidade. Citando Michael Foucault:
“O espaço em que vivemos, que nos tira de nós mesmos, em que a erosão de nossas vidas, de nosso tempo e de nossa história ocorre, o espaço que nos roe e nos arranha, é também, um espaço heterogêneo. Em outras palavras, nós não vivemos em uma espécie de vazio, dentro do qual nós podemos colocar indivíduos e coisas. Nós não vivemos dentro de um vazio que pode ser colorido com diversos tons de luzes, nós vivemos dentro de um conjunto de relações que delineiam lugares que são irredutíveis a um outro e absolutamente não superponíveis sobre um outro.”
Considerando as idéias explicitadas, vamos inserir neste contexto o Museu a Céu Aberto, da Praça Universitária, localizada no Setor Universitário em Goiânia. A Praça Universitária é um ponto histórico, inclusive tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Goiás, e palco de grandes manifestações políticas, culturais e eventos estudantis. Para boa parte dos universitários de hoje e ontem, a Praça se confunde com suas próprias histórias de vida. É, por isso, um significativo lugar de memória da cidade.
Em 2000, através de uma iniciativa pioneira da Prefeitura Municipal, nos jardins da Praça Universitária foi instalado o Museu a Céu Aberto, que disponibiliza e democratiza obras de arte de escultores goianos para visitação pública, fato este que valorizou e embelezou a praça. O museu é, contudo, um espaço aberto delimitado pelos contornos da Praça. Ele avança pelas vias, integrando os elementos. O Museu foi desenvolvido dentro do conceito de participação, criação e interação-didática, inserido em um contexto Arte-Natureza-Vida, junto à população de Goiânia, como sinônimo de cultura e cidadania. Foi projetado para 26 esculturas e 2 painéis. Cada artista elaborou sua obra nas técnicas desejadas, pela plasticidade do bronze, do alumínio, do aço, do ferro, da pedra sabão, da madeira e da cerâmica, influenciados por vários estilos adotados ao longo da história da arte, sendo que esses estilos vão se alternando do abstrato ao figurativo, das maiores para as menores, no patamar mais baixo da praça, em sentido horário.
O grande feito desta iniciativa está justamente na quebra conceitual da idéia de museu. O museu sempre foi referência para um certo “acomodamento” da produção, que se propõe específica para os espaços de museus; ou ainda para a “adequação” mútua de museus e obras para a inclusão daquelas que não foram realizadas para figurar em suas salas. Há de quebrar estes paradigmas. O fato que ocorre é que os museus não são “depósitos do passado”. O conceito de museu hoje é de centro dinâmico de difusão cultural, poderoso instrumento de transmissão de conhecimento e formação de consciência, cujo papel primordial é sócio-cultural-educativo, para ir ao encontro às necessidades do público.
Dentro desta perspectiva, podemos compreender o Museu a Céu Aberto como um elemento de aproximação da população em relação às artes – rompendo, literalmente as paredes do museu – e tendo como proposta desafiadora comunicar-se com a sociedade através das artes no espaço público.
Voltando a Lewis Mumford sobre o processo da cidade no favorecimento da arte e a própria cidade como arte, há ainda de se dizer que a cidade como instituição dinâmica reflete as constantes aspirações e manifestações de sua população. São muitas as formas de expressão e representação a serem apreendidas e consideradas, em que a cidade configura neste contexto, ora como palco, ora cenário e ora platéia. Assim, a cidade é referência na concepção artística, afinal cabe a ela o papel sustentador do cotidiano.
Para finalizar, vale a citação do filósofo Umberto Eco ao entender que as obras de arte são obras abertas no sentido de não comportarem apenas uma interpretação. Assim, as expressões artísticas existem a partir da intenção de seu autor, mas é apropriada pelo intérprete conforme seus desejos. Tal fato ocorre pelo caráter multifacetado das artes, que não fecham conteúdos. Abrem-se novas possibilidades de interpretação e compreensão do mundo, justamente por despertar esse sentimento de descentralização e pluralidade. Podemos inserir a própria cidade no conceito de obra aberta.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade
FOUCAULT, Michel. Of Other Spaces, in Mirzoeff, Nicholas (ed.) Visual Culture Reader, London, Routledge, 1998, p. 239
Site oficial da Prefeitura de Goiânia: www.goiania.go.gov.br

A criação da cidade como obra artística





Por Nathana Tila Alencar Siqueira

As preocupações em relação à cidade têm levado os estudiosos das mais diferentes áreas a pensarem a cidade em suas múltiplas facetas. O historiador Lewis Mumford, por exemplo, faz uma análise, onde afirmando que “a cidade favorece a arte, é a própria arte” ele a eleva a um produto artístico. Sendo seus elementos, na sua composição e funcionamento, testemunhas de diferentes fases históricas e componentes que tornam a cidade um corpo enorme de acúmulos de formações culturais, a cidade também se apresenta como resultado de evoluções estéticas que dão a ela uma variedade de formas especifica que resultam numa estética própria.
E é nesse âmbito, onde a cidade é colocada como arte, que surge a idéia da cidade ideal, que seria concebida como uma única obra de arte, por um único artista. Porém é mais que certo que a cidade ideal vai sempre existir para a cidade real como o mundo do pensamento existe para o mundo dos fatos. A começar pela idéia de unidade que se espera da cidade ideal. Afinal, com as constantes evoluções e transformações, sejam estas planejadas ou espontâneas, que ocorrem todo o tempo, esperar que seja produto de um único artista é irracional. A cidade ideal funciona então como um parâmetro para que seja possível medir os problemas da cidade real, que pode ser construída como obra de arte, porém mutável.
O caso de Amsterdam, por exemplo, foram construídos canais como estrutura defensiva, os quais caracterizaram a cidade conforme se construía mais com diferentes objetivos, como para o transporte de importações e exportações. Esses sucessivos semicírculos deram ao centro da cidade um layout particular belíssimo. É importante ressaltar aqui uma das características da cidade real: antes de considerar as edificações em relação às categorias estéticas, é necessária considerações às técnicas que podem torná-las possíveis. Afinal, a preocupação inicial foi com a forma da cidade, sua estrutura, e ao que se esperava e exigia dela em uma situação especifica.
Mas essas técnicas também influenciam na estética particular de cada cidade. A configuração dos canais não só permitem que nos situemos no centro da cidade, como ainda indicam a passagem do tempo, como anéis no tronco de uma árvore. As construções no entorno também seguem uma rítmica, no estilo e conseqüentemente nos materiais utilizados. Surgem características singulares como os barcos-residências, que funcionaram como moradias substitutas numa época de drástica falta de moradias. Algumas pessoas condenam este hábito local, mas não compreendem como esta variedade informal e em constante mudança contribui para a atmosfera vivaz da cidade, especialmente nos canais, onde a aparência geral é dominada por uma arquitetura formal e dignificada.
A construção do urbano é, então, produto de fatos e eventos históricos, sejam eles provocados pelo homem ou não. Os canais de Amsterdam sofreram diversas modificações permanentes nas décadas de 50 e 60, quando os problemas de trânsito assumiram proporções gigantescas na Holanda, sendo produzidos canais radiais que felizmente não adulteraram esta configuração de Amsterdam. Há também de considerar as interferências na estética da cidade. Com as estações mudando, muda também a paisagem e o olhar das pessoas na paisagem. No verão os canais ganham efeitos espaciais completamente diferentes dos obtidos no inverno, com vegetação colorida que participa da delimitação do urbano, enquanto que no inverno, com as árvores nuas, a delimitação do espaço urbano fica quase gráfica. Sem falar na dramática mudança de aparência que ocorre quando os canais congelam.
Amsterdam, por sua conformação formal possui um grande valor histórico. Preocupou-se em manter até mesmo instituições bancárias e o comércio no mesmo estilo arquitetônico que já havia quando se construiu os canais. Essa não, pelo menos por completa, modernização da cidade faz com que ela adquira um valor na consciência dos nossos contemporâneos. A cultura moderna deve sempre valorizar essas estruturas históricas como memória, pois elas funcionam como instrumento cientifico e didático para a formação de uma cultura figurativa ou do “pensamento visual”, citado por Arheim.

Estado: cumprindo obrigações ou seguindo interesses?




Por Geovanna Messias Pires da Silva

Desde tempos remotos, a cidade é tida como a busca por um lugar ideal, lugar este idealizado, mas impossível de ser realizado. Uma cidade ideal é caracterizada por uma cidade pensada apenas por um artista, um único idealizador, que trabalha suas estruturas urbanas; no entanto, com o desenvolvimento de tecnologias industriais e o crescimento acentuado desse setor, torna a cidade um lugar nada convencional do ideal, ou seja, um lugar planejado de acordo com as necessidades do momento.
As cidades são vistas como uma obra de arte, pensadas por filósofos e desenvolvidas para o povo, e posteriormente tomadas e organizadas pelo estado, não mais de acordo com o povo, mas de acordo com o crescimento do pequeno grupo que dele se sobressai e por quem o governo mais se interessa.
A cidade de Goiânia, por exemplo, foi criada para ser uma cidade ideal. Teve toda a sua região cuidadosamente planejada e feita de acordo com o desenvolvimento da cidade na época, se preocupando com futuros acréscimos de pequena dimensão. O que podemos levar em consideração para buscar as vertentes filosóficas e ideais da cidade são as diferenças entre os bairros, levando em consideração a preocupação do governo em beneficiar mais pessoas de um grande poder aquisitivo do que os bairros periféricos.
As regiões sul e oeste, mais centrais da capital goiana, que engloba principalmente os setores Oeste, Sul, Bueno e Marista, concentram em sua maioria as famílias tradicionais da cidade, sendo assim beneficiados pelo estado. Os parques, as vias e até a distribuição das redes de esgoto e energia são favorecidas. Mesmo sendo fato que aquela região é uma área central da cidade, onde circula um grande número de pessoas todos os dias, é uma região mais bem abastecida pelo governo.
Outra região que vem se destacando é o Jardim Goiás, que já era valorizada pelo fato do maior centro de compras do estado estar localizado lá e ser um local com alto custo de vida; mas foi graças à criação de um novo parque pelo governo que a região abriga hoje um grande número de construções de edifícios habitacionais, o que demonstra que as empresas privadas foram de certa forma, manipuladas pelos interesses estatais de desenvolvimento.
O mesmo acontece com os condomínios fechados, áreas habitacionais reservadas, que se localizam em sua maioria fora da região central da cidade. Exemplo dessa beneficiação foi a tentativa de transferência do local de uma festa já tradicional em Goiânia do Autódromo para um local mais distante de “áreas residenciais” (extinto CarnáGoiânia x Alphaville Flamboyant).
Já as regiões menos abastadas da cidade, ou seja, com menor importância para o estado, são muitas vezes esquecidas. As vias são ruins, acontecem cortes freqüentes de água e energia, além de fornecerem más condições para os cidadãos (falta de segurança, mau funcionamento de hospitais públicos ou até mesmo a ausência deles, entre outros). As regiões mais atingidas pelo descaso público são aquelas localizadas ao norte da cidade.

Com esse exemplo de nossa história e de nosso quotidiano, podemos ver como a má filosofia difundida pelos pensadores contemporâneos para inspirar e influenciar arquitetos e urbanistas da atualidade, unida à idéia uma cidade ideal, nos leva até a criação da nossa cidade real, criada em cima dos interesses de órgãos estatais em beneficiar uma parte da população que lhe interessa. A cidade, então, é uma obra de arte moldada de acordo com os interesses dessa minoria que detém a responsabilidade de organizá-la.

Símbolo, representação e admiração






Por Ana Stéfany da Silva Gonzaga


Cada cidade tem seu perfil. O cotidiano dos seus habitantes molda a identidade que difere um lugar de outro. Não só o cotidiano, como também condições territoriais, históricas, físicas, políticas, religiosas e tudo o que caracteriza uma terra. Nas (grandes) cidades atuais é comum, porém, que se perceba situações que trazem medo, angústia, aflição, restrições e inseguranças àqueles que têm de enfrentar a violência, o trânsito caótico, a miséria (mesmo que alheia), enfim, a insegurança presente num lugar de viver.
Sendo assim, muitas pessoas se limitam diante dessas mazelas, o que as leva a uma vida mais restrita, menos prazerosa. A cidade parece menos agradável e os espaços de tranqüilidade, raros. Não que faltem ambientes de lazer, ao contrário, eles existem e são de grande importância a todos.
A cidade do Rio de Janeiro explicita bem esse fato: o caos urbano é fruto de fatores diversos como o abandono da cidade pela prefeitura. O intenso tráfico de drogas coloca a população entre uma verdadeira guerra entre policiais e bandidos. Seqüestros, assassinatos, assaltos são constantes. A saúde pública também é um sistema deficiente. Problemas como esses amedrontam e deixam alarmada a vida, não só no Rio, mas em muitas outras cidades, que apresentam situações semelhantes.
No entanto, mesmo com tamanhas dificuldades, o meio urbano não é feito somente de desastres. Todos esses males juntamente aos anseios e esperanças da sociedade podem ser representados na própria arquitetura da cidade. Esta pode, ainda, servir de apoio através de figuras que influenciem esse desejo de mudança, de melhoria.
No Rio, o Cristo Redentor é a maior forma de refúgio dos cariocas. Para muitos, ele é muito mais que um monumento, ele traz emoções quase que inexplicáveis aos seus observadores. Isso, presente também naqueles que vivem em outras cidades e, até mesmo, em outros países.
O monumento se localiza no topo do Morro do Corcovado. Símbolo do Cristianismo, ele se coloca, sobre a baía de Guanabara, como protetor do Rio. Para quem já esteve nesse espaço sabe que a emoção da grandiosidade da representação de Deus e da espetacular vista da Cidade Maravilhosa. Do Corcovado pode-se ver as suntuosas praias de Ipanema, de Copacabana, a baía de Guanabara e todo o esplendor da cidade e seus edifícios. A subida ao morro é também m passeio ecológico: dentre outras formas de locomoção, o trem atravessa o Parque Nacional da Tijuca e parte da Mata Atlântica. Já nesse momento, o visitante é levado a situações de descontração, de contato com a natureza, uma fuga do cotidiano tenso comum nas grandes cidades.
É notável, então, como um elemento da cidade pode interferir de forma tão forte na vida de muitas pessoas, como também na imagem da cidade. O Cristo Redentor é um marco na cidade: ele é tido como auxílio para referências, pode ser visto através de diversos ângulos. No campo mundial, ele simboliza a cidade e também o país, servindo de ícone. O monumento é cartão-postal da cidade. Grandes nomes da música brasileira, inúmeras vezes, o homenagearam. Alguns deles: Corcovado, de Tom Jobim; Expresso 2222, de Gilberto Gil; Las Muchachas de Copacabana, de Chico Buarque; Os Passistas, de Caetano Veloso; Samba do Avião, de Tom Jobim; Um Trem para as Estrelas, de Cazuza; Realidade Virtual, de Engenheiros do Hawaii; Alagados, de Paralamas do Sucesso.
Ele marca um importante trabalho da engenharia civil brasileira. Erguido em concreto armado e revestido de pedra-sabão (esta, originária do próprio Morro do Corcovado). O autor do projeto é o engenheiro Heitor da Silva Costa, contribuíram na construção o artista plástico Carlos Oswald, que fez o desenho final, e o escultor Paul Landowski, executor dos braços e do rosto na obra. O monumento do Cristo Redentor é tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional). Em 07 de julho de 2007 foi nomeado como uma das novas Sete Maravilhas do Mundo. Inaugurado em 12 de outubro de 1931, está a 709 metros acima do nível do mar, o monumento possui 38 metros de altura, sendo 8 metros de pedestal.
O simbolismo do Cristo Redentor nasce também desse conjunto de sentimentos (esforços, reflexões, vontades), que estão diretamente ligados à realidade. No entanto, não representa uma unidade: há contradições. Já que cada pessoa, cada comunidade e cada nação têm um perfil, existem aqueles que interpretam a construção de outras maneiras. Nesse caso, líderes de uma igreja protestante tentaram impedir que fosse realizada a obra. Eles alegaram ser uma idolatria à Igreja Romana e não exatamente a Jesus Cristo. No entanto, muitos outros protestantes visitam, respeitam e admiram o monumento.
Percebe-se, então, que um elemento da cidade, por mais grandioso, admirado e reconhecido que seja, está sujeito a aversões. Uma coisa de suma importância a uma pessoa pode não fazer o mesmo efeito em outras. Daí é que aparecem os questionamentos que servem como definidores do que pode ser bom ou ruim dentro de determinada situação, ou seja, através de críticas, as opiniões podem ser reformuladas e, assim, vão se formando as mudanças que transformam a cidade.
O Rio de Janeiro precisa, justamente, desse espírito e dessa vontade de melhorar. Precisa superar as dificuldades sem colocar tudo nas mãos do governo: cada cidadão deve pensar a cidade e analisá-la, para então identificar o que ajuda e o que atrapalha nessa busca por crescimento. Isso, valendo também para toda e qualquer pessoa em toda e qualquer cidade.
Um monumento pode não ter o poder de definir a cidade na qual se localiza, mas pode ser instrumento de grande influência nesse caráter. Ele pode revelar as diferenças entre coisas como cidade e natureza, ser e pensamento; trazendo, então, uma gama de reflexões, idéias, conclusões e transformações no modo de viver das pessoas. O primeiro passo para isso é o ato de questionar, de pensar os pontos positivos e os negativos, de dar sugestões, enfim, de participar da construção de um espaço.



Referências: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristo _Redentor
http://www.corcovado.org.br/#
LEFEBVRE. A filosofia e a cidade

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Parque Vaca Brava: elemento primário e fato urbano


Por: João Paulo Ferreira de Morais


Assumindo a hipótese da cidade como artefato e como obra de arte, é constante a busca pela compreensão de seus valores estruturais. Essa arte compreende fatos concretos que atestam a relação do homem com a cidade. A geografia e a ecologia abriram grandes horizontes, a sociologia estudou a psicologia urbana. Mas o fator essencial para compreender a cidade como obra de arte é a arquitetura.

Na formação das cidades existem os elementos primários, que definem-se pela sua presença e aceleram o processo da dinâmica urbana. A cidade é constituída por partes e cada uma dessas partes é caracterizada; em torno dos elementos primários agregam-se edifícios. Os monumentos são pontos de referência da dinâmica urbana.

Em Goiânia, o Parque Vaca Brava é um elemento primário, pois marca presença na forma de contraste com a “paisagem de pedra”, segundo a expressão de Fawcett para definir cidade. Assim como um parque é um elemento primário, no caso, um fato urbano por tem uma vida própria (caracterizada pelo verde ou pela sua razão de existência – contraste com a alienação dos edifícios); um hospital tem sua presença e uma vida própria (caracterizada por exemplo pela dor); são fatos urbanos diferentes com objetivos diferentes. Partindo da hipótese da cidade como artefato, os elementos primários têm uma evidência absoluta: destinguem-se com base na sua forma e, em certo sentido, com base na sua excepcionalidade no tecido urbano.

O Parque Vaca Brava é um parque urbano que ocupa uma área de 18.000 metros quadrados e contém um extenso lago e uma floresta com espécie nativa de fauna e flora. O parque conta com uma pista de cooper que rodeia todo o parque e por onde passam centenas de pessoas diariamente. O objetivo de haver parques na cidade é de proporcionar um espaço de convivência e lazer; esta é a vida, o destino próprio desse fato urbano. Em volta do parque, existem diversas lojas de alto padrão. Além disso, conta com a presença do Goiânia Shopping, considerado um dos maiores shoppings centers de Goiânia. Essa proximidade com shopping centers faz com que seja muito freqüentado por pessoas de todas as idades durante os finais de semana interessados em desfrutar da sua extensa área verde. Como um devido elemento primário, está rodeado de edifícios.

A cidade necessita de certa adequação aos diversos níveis e modos de vida da sociedade, e cada vez mais a cidade tem o dever de manter o equilíbrio na vida de seus moradores. Alguns dos elementos responsáveis por isso são as áreas caracterizadas: os fatos urbanos. O Parque Vaca Brava oferece tudo isso em sua área. Partes inteiras da cidade apresentam sinais concretos do seu modo de viver. Os elementos primários podem ser estendidos de um simples ponto de vista funcional, como atividade fixa da coletividade para a coletividade, mas sobretudo podem ser identificados com fatos urbanos definidos, um acontecimento e uma arquitetura que definem a cidade.

“Não há nada que os venezianos não tenham procurado acrescentar à grandeza do Estado, à sua glória, ao seu esplendor. E isso levou-os a fazer da sua cidade um monumento vivo, maravilhoso, do amor e da reverência que nutriam pela República, monumento que ainda hoje suscita mais admiração e dá mais alegria do que qualquer outra obra nascida do fervor da arte”. Essa afirmação toma como base a cidade como uma obra de arte. E seguindo essa linha, Goiânia, como uma cidade, é um obra de arte, e um de seus pilares é, com certeza, o Parque Vaca Brava, já que o contraste gerado por ele gera uma beleza fascinante onde está situado; o verde ameniza o clima abafado gerado pelo aglomerado de edifícios da cidade, isso traz conforto à sociedade, que tem a alienação do cinza da cidade quebrada pela beleza radiante ali presente. O Parque ocupa sua função como elemento primário e fato urbano.

Uso e desuso do Parthenon Center


Por: Marilia Milhomem Pereira

As cidades não-planejadas e até as planejadas, como Goiânia, se desenvolveram em torno de um núcleo pré-urbano. Com o desenvolver dessas cidades, onde estava esse núcleo pré-urbano, passou a se localizar o centro da cidade. Nesse processo evolutivo, o centro encontra-se em uma posição de destaque em relação às áreas periféricas. Em Goiânia não foi diferente.
Assim que Goiânia ‘’ficou pronta’’, ela dispunha de uma praça principal (Praça Cívica) que conectava várias vias importantes, e levava até o centro da cidade, (È assim até hoje) que na época concentrava as importantes atividades comerciais, os fluxos de pessoas, capitais e mercadorias. Essa importância econômica do centro caracteriza toda uma cultura da época em que tudo se resolvia naquela região, e essa cultura é refletida na arquitetura do entorno.
De acordo com Viollet-le-Duc, ‘’A arquitetura é uma criação humana baseada na aplicação de princípios que nasceram fora de nós, e de que nos aprimoramos por observação” Ou seja, toda a arquitetura dos edifícios encontradas no centro, são frutos de mentes humanas provenientes de observações criticas do espaço, buscando o aperfeiçoamento e o bem-estar da população. Para provar essa reflexão da dinamização do centro da cidade na sua arquitetura, basta olharmos para o edifícios lá construídos, iremos encontrar prédios comerciais, bancos, calçadas largas para a circulação das pessoas, pontos de ônibus etc.
Como a princípio a cidade foi planejada para determinado número de habitantes, e esse número foi ultrapassado, surgiram vários problemas na cidade. Entre eles o que mais afetou o centro, foi aumento no número de carros trafegando no mesmo local, sem as quantidades correspondentes de vagas para estacionamento. As conseqüências de um problema desses para o centro, são tremendas, economicamente falando. O fluxo de pessoas decresce bastante quando elas não se vêem confortáveis com determinada situação.
O que fazer diante de uma situação como essa, onde o centro da cidade é pensado para acomodar determinada função e determinado numero de carros, e acaba extrapolando do plano previsto? A solução para o problema se concentra na mão dos arquitetos, e estudiosos da causa, que a partir de uma análise do problema, mostrarão as soluções.
No caso em questão, em que havia mais carros do que vagas disponíveis, surgiu a proposta da criação de um Edifício-Garagem, o chamado Parthenon Center, localizado na Rua 4, Setor Central. Esse edifício construído em 1974, foi uma inovação na cidade de Goiânia, ele agregava inúmeras vagas para estacionamento, e estas ficavam dispostas em vários pavimentos, e também possuía várias salas para fins comerciais. Com isso, o edifício ganhou seu caráter de estacionamento verticalizado e moderno.
Edifícios-garagens como esse, já haviam surgido fora do Brasil e dentro também, mais precisamente em São Paulo. Esse tipo de construção atingiu os objetivos previstos pelos arquitetos, ou seja, conseguiu armazenar em um mesmo local, vários carros que ficavam rondando pelo centro em busca de um estacionamento, até a desistência. Esteticamente falando, não é possível definir o edifício-garagem como bonito ou feio, mas dá para taxá-lo como inovador e funcional para a época, afinal, quando olhado de longe, são vistos vários carros em diferentes andares, provocando uma composição visual bem atípica para o início dos anos 70.
Mesmo com toda sua inovação e originalidade, o Parthenon Center foi entrando em decadência devido ao comum processo que a maioria das cidades grandes sofrem, a desvalorização do centro. Como o dinamismo do Centro foi cessando, e outras formas de garagens comuns tinham surgido, o Parthenon deixou de ser tão funcional como outrora, passando a ser apenas um fragmento de uma arquitetura, uma referência, e até um marco. Hoje em dia, ele agrega as mesmas funções de antes, possui as salas, e possui o estacionamento, o problema é que o número de adeptos daquilo que tinha sido inovação, caiu drasticamente, e aquele tipo de estacionamento passou a ser visto como algo anti-prático para a realidade do atual centro de Goiânia.
É bem complicado se criar uma obra arquitetônica que não vá cair em desuso, que não vá deixar de atender às necessidades sociais, históricas e ambientais, mas é para isso que existe a arquitetura, para que, baseado na crítica daquilo que existiu e falhou, algo novo possa surgir. No caso do Parthenon Center, já sabemos que hoje em dia não seria mais viável a construção de Edifícios-garagens no centro de Goiânia, pois a realidade é totalmente outra. Existem estacionamentos rotativos por toda a parte, garantindo a praticidade para aquele que vai ao centro numa visita rápida.
O que tem que ficar claro, é que essa afirmação de que hoje em dia esse mecanismo não daria certo, também não se trata de uma verdade absoluta. Cada cidade dispõe de uma situação específica, e a mesma cidade pode sofrer alteração, tanto rumo ao progresso, quanto ao regresso. Com a atual proposta de revitalização do Centro de Goiânia, quem sabe o Parthenon volte a seus tempos de glória, já que o número de carros voltará a aumentar. Isso só dependerá de que forma essa revitalização se dará, se for bem planejada, ela trará soluções para o estacionamento dos carros. Como uma padronização, ou seja, teria que ser definido se é mais viável a construção de outros Edifícios-garagens, como o Parthenon, ou a criação de outras formas de estacionamentos rotativos, como os de lotes, ou até subterrâneos.
Edifícios como esse em discussão, tornam-se marcantes em uma cidade, eles representam o modo de viver, as formas e memórias daquelas pessoas que residem naquela cidade, e que tem contato com aquele edifício, mesmo que visual.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A evolução funcional da praça como centro político




por Paulo Gustavo de Araújo Perini


Na Grécia antiga, nas cidades-estado, as praças caracterizavam-se por ser um local de encontro dos cidadãos, para discutirem os problemas relativos à cidade, exercendo uma função política, no decorrer dos séculos permaneceu com a mesma funcionalidade. Influenciado por estes aspectos, o arquiteto Atílio Correia Lima criou o centro político do estado de Goiás, localizado no centro da cidade de Goiânia, sendo-lhe atribuído o nome de Praça Cívica.
Com arquitetura marcante estilo Art Déco, com a utilização de cimento armado, a Praça Cívica abriga os edifícios políticos e culturais do estado, exercendo a função de centro político. Objetivando interligar a praça com as demais regiões, as avenidas principais estão conectadas a esta, possibilitando ir a qualquer direção, assim todos os cidadãos teriam facilidade de chegar ao centro, local de prestações de serviços. Dentre os edifícios políticos temos o Palácio das Esmeraldas, residência oficial do governador do estado, e o Palácio Pedro Ludovico, o antigo Centro Administrativo, caracterizando o local aonde se tomam as decisões, semelhante a praça da polis grega. Diferenciando um pouco, a Praça Cívica abriga o museu Zoroastro Artiaga, somando-lhe mais uma função.
A importância de um ponto central para a arquitetura de Goiânia foi fundamental para a criação posterior dos outros setores, como um ponto inicial, sendo daquele local foram surgindo o restante da cidade na imaginação do arquiteto. Mesmo com os edifícios da Praça Cívica destacando-se dos outros edifícios da cidade era necessário um monumento para garantir a imageabilidade, então se criou o Monumento ás três raças, de Neusa Morais. È uma homenagem à miscigenação entre as etnias branca, negra e indígena, que deu origem ao povo goiano. Consequentemente a Praça Cívica acumulou mais uma função; política, cultural e marco da cidade.
Com o passar das décadas a Praça Cívica passou a representar algo que o arquiteto Atílio Correia Lima não tinha projetado, ela passou a ser centro histórico. A cidade de Goiânia possui o mais significativo conjunto arquitetônico e urbanístico de Art Déco do país, por este motivo o acervo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Este acúmulo de funções é característico das cidades pós-industriais, sendo centro político e cultural, marco da cidade e também centro histórico. A Praça Cívica funciona como um elemento primário, sendo que ao seu redor há edifícios que exercem diferentes funções, de comercial à residencial.
Outro aspecto importante a ser comentado é o fato de que a Praça Cívica já foi palco de eventos históricos, tais como as manifestações das´´diretas já``, relacionando ainda mais a praça com um palco político, característica levada em conta por Atílio Correia Lima na construção do Palácio das Esmeraldas. O Palácio possui uma sacada que era usada pelos governadores para realizarem seus discursos para a população, além de possuir certa grandiosidade, que exerce uma função social e psicológica representando o poder do estado.
Ressaltando o caráter cultural da Praça Cívica, todo o ano ocorre a comemoração de festividades (aniversário da cidade); apresentações culturais e religiosas (cantata de natal, ano novo). Estes acontecimentos aproximam os indivíduos do objeto construído, aproximam o estado do povo. A Praça Cívica também se torna um lugar de lazer, com os shows e feiras oferecidos pelo governo.
A Praça Cívica, como o restante da cidade, está presenciando uma época de progresso, prova disto é a recente construção do Palácio Pedro Ludovico, com arquitetura moderna o prédio se diferencia dos outros edifícios na praça, porém esta dicotomia presente-passado, como citado anteriormente, tem se mostrado cada vez mais nas cidades atuais, este processo é contínuo, contudo, o valor histórico que está contido na Praça não será perdido, ela evolui lado a lado com a cidade.