terça-feira, 19 de maio de 2009

A evolução funcional da praça como centro político




por Paulo Gustavo de Araújo Perini


Na Grécia antiga, nas cidades-estado, as praças caracterizavam-se por ser um local de encontro dos cidadãos, para discutirem os problemas relativos à cidade, exercendo uma função política, no decorrer dos séculos permaneceu com a mesma funcionalidade. Influenciado por estes aspectos, o arquiteto Atílio Correia Lima criou o centro político do estado de Goiás, localizado no centro da cidade de Goiânia, sendo-lhe atribuído o nome de Praça Cívica.
Com arquitetura marcante estilo Art Déco, com a utilização de cimento armado, a Praça Cívica abriga os edifícios políticos e culturais do estado, exercendo a função de centro político. Objetivando interligar a praça com as demais regiões, as avenidas principais estão conectadas a esta, possibilitando ir a qualquer direção, assim todos os cidadãos teriam facilidade de chegar ao centro, local de prestações de serviços. Dentre os edifícios políticos temos o Palácio das Esmeraldas, residência oficial do governador do estado, e o Palácio Pedro Ludovico, o antigo Centro Administrativo, caracterizando o local aonde se tomam as decisões, semelhante a praça da polis grega. Diferenciando um pouco, a Praça Cívica abriga o museu Zoroastro Artiaga, somando-lhe mais uma função.
A importância de um ponto central para a arquitetura de Goiânia foi fundamental para a criação posterior dos outros setores, como um ponto inicial, sendo daquele local foram surgindo o restante da cidade na imaginação do arquiteto. Mesmo com os edifícios da Praça Cívica destacando-se dos outros edifícios da cidade era necessário um monumento para garantir a imageabilidade, então se criou o Monumento ás três raças, de Neusa Morais. È uma homenagem à miscigenação entre as etnias branca, negra e indígena, que deu origem ao povo goiano. Consequentemente a Praça Cívica acumulou mais uma função; política, cultural e marco da cidade.
Com o passar das décadas a Praça Cívica passou a representar algo que o arquiteto Atílio Correia Lima não tinha projetado, ela passou a ser centro histórico. A cidade de Goiânia possui o mais significativo conjunto arquitetônico e urbanístico de Art Déco do país, por este motivo o acervo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Este acúmulo de funções é característico das cidades pós-industriais, sendo centro político e cultural, marco da cidade e também centro histórico. A Praça Cívica funciona como um elemento primário, sendo que ao seu redor há edifícios que exercem diferentes funções, de comercial à residencial.
Outro aspecto importante a ser comentado é o fato de que a Praça Cívica já foi palco de eventos históricos, tais como as manifestações das´´diretas já``, relacionando ainda mais a praça com um palco político, característica levada em conta por Atílio Correia Lima na construção do Palácio das Esmeraldas. O Palácio possui uma sacada que era usada pelos governadores para realizarem seus discursos para a população, além de possuir certa grandiosidade, que exerce uma função social e psicológica representando o poder do estado.
Ressaltando o caráter cultural da Praça Cívica, todo o ano ocorre a comemoração de festividades (aniversário da cidade); apresentações culturais e religiosas (cantata de natal, ano novo). Estes acontecimentos aproximam os indivíduos do objeto construído, aproximam o estado do povo. A Praça Cívica também se torna um lugar de lazer, com os shows e feiras oferecidos pelo governo.
A Praça Cívica, como o restante da cidade, está presenciando uma época de progresso, prova disto é a recente construção do Palácio Pedro Ludovico, com arquitetura moderna o prédio se diferencia dos outros edifícios na praça, porém esta dicotomia presente-passado, como citado anteriormente, tem se mostrado cada vez mais nas cidades atuais, este processo é contínuo, contudo, o valor histórico que está contido na Praça não será perdido, ela evolui lado a lado com a cidade.

Um paralelo entre a evolução urbana e biológica


Avenida T-63, Goiânia-GO:
Uma avenida onde a saturação habitacional e o elevado número de automóveis por habitante, têm como conseqüência grave o engarrafamento das vias. Uma realidade relativamente recente que exige mudanças estruturais somadas a novos comportamentos.




por Robson M. S. Leão Jr.

A atual narrativa da evolução humana indica mudanças climáticas como motor decisivo no desenvolvimento dos ancestrais humanos (Mayr,2004). Por volta de dois milhões de anos atrás a África tornava-se árida. A savana arborizada aos poucos se transformou numa savana arbustiva. Sem árvores, nossos antepassados, adaptados ao habitat arborícola, perderam seu refúgio de segurança e ficaram suscetíveis aos grandes predadores. Como sobreviver nessa novidade hostil? Engenhosidade. Essa introdução, um breve mais importante episódio da história do homem, evidencia como a evolução mostra-se muitas vezes pontual (Gould,1996) e não gradativa (Darwin,1859). Assim, a formação de uma nova espécie ocorre por um embate. As possibilidades de um novo ambiente e as adaptações possíveis e necessárias para retirar desse habitat recursos de vida.
A argumentação acima e seu exemplo são bases para o desenvolvimento de um paralelo conceitual entre a evolução biológica e as transformações do espaço humano no tempo.
A “revolução urbana”, conjunto de modificações que representam a consolidação da sociedade contemporânea foi determinada e sustentada pela industrialização (Lefebvre,1970). Entre a proliferação do tecido urbano, alterações bruscas no espaço, outras graduais. Nesse ponto, pode-se definir a arguição: O urbano é resultado de grandes mudanças pontuais situadas entre intervalos de relativa estabilidade conceitual. Uma visão muito próxima da teoria do equilíbrio pontuado, proposta por Niles Eldredge e Stephen Jay Gould para a evolução das espécies biológicas.
A cidade industrial, em sua gênese, é a expansão de um novo contexto. Uma força que contenta as necessidades que suas “ancestrais”, cidades política e comercial, não podiam satisfazer. Ela rompe os paradigmas e abre novas possibilidades. Entretanto, como é fundamentada em seu passado, carrega imperativos que paradoxalmente limitam e dão condição a sua estruturação. Num primeiro momento, o conceito permeia o espaço. A partir de um núcleo, a difusão acontece e renova-se na materialização do juízo nos espaços periféricos. Seguidamente, com os nichos ocupados, o espaço estruturado, passa a ser ambiente, no que podemos chamar de clímax conceitual. Um momento de inércia, o que era mutável passa a ser rígido. Assim sendo, a repetição da forma, a moda. Essa condição ortodoxa, efêmera ao tempo, sustenta-se até o ponto em que as demandas se renovam. A faculdade criativa se restabelece para atender as necessidades em movimentos adaptativos. É o início de um novo ciclo, de realidades que exigem diferentes comportamentos.
Os pontos conceituais que marcam a evolução do espaço humano são essencialmente as cidades: política, comercial, industrial e como tendência a sustentável. A possibilidade dessa segmentação histórica também ratifica uma modificação que segue um padrão cíclico do revolucionário ao conservador.
As análises e considerações encontradas nos diferentes campos de estudo, podem revelar-se semelhantes. De tal modo, capazes de serem comparadas para o enriquecimento da compreensão humana sobre o espaço que o rodeia.

Crítica a Um Elemento Urbano: A Via



Avenida Bernardo Sayão


por Mariana Oliveira Di Guimarães


A cidade é formada por elementos como a rua, a praça e os monumentos, e são esses elementos que a definem. Cada cidade tem a sua arquitetura, que expressa as ações da sociedade, seu modo de vida, seus sentidos individuais. Cada cidade é única e própria de sua sociedade: sua origem está ligada à história, à cultura e às tradições de certa sociedade. Mas a cidade está sempre em um processo contínuo, não é algo definitivo: a cidade é uma obra inacabada, que está sempre se modificando de acordo com o contexto em que está inserida.
Como já foi dito, os elementos de uma cidade estão sempre em um processo de transformação, devido a vários fatores, como a entrada do comércio e a industrialização, por exemplo. A Avenida Bernardo Sayão, no setor Centro Oeste, em Goiânia é um bom exemplo disso.
Essa avenida, com o nome em homenagem ao engenheiro Bernardo Sayão, era, antigamente, sem movimento e com apenas algumas indústrias de confecção de roupas. Mas, a partir dos anos 70, com o reconhecimento dessas indústrias por comerciantes e, posteriormente, pela chegada de outras fábricas e lojas, a avenida tornou-se um importante centro comercial de roupas, atingindo também as ruas em seu entorno. A vinda de lojas foi cada vez mais intensa, sendo que agora há mais de 2.500 pontos de venda na avenida.
Essa centralização do comércio modificou intensamente a avenida. Antes, essa avenida era um local de circulação e passagem, um lugar de encontro. Agora, ela transformou-se no lugar da troca, do consumo, da mercadoria; as pessoas andam olhando para as vitrines, comprando coisas nas lojas e nas bancas das calçadas, numa verdadeira alienação à mercadoria.
A tranqüilidade da Avenida Bernardo Sayão deu lugar a uma imensa aglomeração de pessoas, atividades e objetos. Agora, as calçadas são divididas entre pedestres, feirantes, barracas, vendedores etc. O congestionamento de automóveis é diário e achar estacionamento é complicado.
Há, em toda a extensão do trecho da Avenida Bernardo Sayão, vários estabelecimentos comerciais no ramo da confecção, o que atrai além da população do entorno, pessoas de outros estados, contribuindo ainda mais para a aglomeração de pessoas na avenida, e aumentando o desconforto de quem passa por ela.
A avenida se transformou de acordo com as necessidades do comércio e da industrialização, subordinando-se ao sistema do consumo. Percebe-se, portanto, que há certa desordem na avenida, causando grandes transtornos às pessoas que tem de circular por ela. Isso mostra a importância de um planejamento urbano.

POR TRÁS DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA





por Flávio Fernandes Vasco

Falar em evolução é sempre pensar adiante, é conhecer ou ter-se idéia do ponto de partida, da jornada percorrida e as possibilidades a serem seguidas. Isto se aplica às cidades, uma vez que estas são o produto de manifestações humanas individuais e coletivas. Logo, não há como mencionar evolução dos fatos urbanos sem analisar, sem contextualizar, sem considerar as causas históricas, como diz Lefebvre: “Enunciamos um objeto virtual, a sociedade urbana, ou seja, um objeto possível, do qual teremos que mostrar o nascimento e o desenvolvimento relacionando-os a um processo e a uma práxis (uma ação prática)”.
Daí, a dizer que as cidades se transformam e se adaptam conforme o desenrolar de seus acontecimentos históricos. Estes fatos, de alguma forma, modificam a maneira como as pessoas se relacionam entre si, com a natureza e com o meio em que vivem. Podemos dar como exemplo a Revolução industrial iniciada no século XVIII que veio alterar a situação anterior, modificando e transformando a cidade mercantil, que também contém a cidade política em sua constituição. Trata-se de uma marcha ascendente. Fatos concretos marcam, inserem e invertem valores, além de estabelecerem novas relações dos indivíduos com os diversos componentes da cidade.
Dentro desta linha de pensamento e considerando as idéias de Aldo Rossi sobre os fatos primários constituintes da estrutura da cidade, há de se inserir a estação ferroviária de Goiânia dentro deste contexto. É fato que se trata de um dos edifícios mais imponentes da característica art déco original de Goiânia. Neste cenário, ela configura um ponto importante na história iconográfica da cidade. Construída tardia e estrategicamente dentro do plano concebido da cidade, a estação adquire ponto focal no ir e vir, no transporte coletivo e de cargas e, ao mesmo tempo, como meio de comunicação.
A estação surge no traçado urbano de Goiânia como elemento primário, pois a partir dela se configura toda uma região geograficamente, além de marcar o limite norte do plano original. Podemos considerar ainda que a construção de uma estação ferroviária numa cidade recém-inaugurada representava o desejo da inovação e modernização da região. Vale dizer que a escolha do sítio da nova capital prezava pela proximidade da malha ferroviária.
Inicialmente concebida para ser terminal ferroviário, a estação não perdura por mais de 20 anos nesta função, uma vez que as políticas do país primaram em favorecer o transporte rodoviário. Ora, qual seria a função de uma estação ferroviária para Goiânia? Sem função determinada, ela adquire função de restaurante, centro de artesanato, sede de banda e atualmente configura como centro cultural. Mas não há atividades de música, teatro ou qualquer manifestação cultural. Em verdade, a estação se encontra praticamente abandonada no sentido de uma função estabelecida. Qual seria a intenção do arquiteto ao conceber a estação? Ele havia previsto estas mudanças de finalidade e uso? Como e por quê um prédio funcional se torna um monumento? Quais as formas de usufruir de prédios como a estação?
As transformações no modo de vida da cidade, as relações regionais e mais atualmente os acontecimentos globais muito interferem nas relações existentes dentro das cidades. Os valores de comércio, de indústria, os próprios valores humanos são modificados e aos poucos estas impressões são percebidas na imagem das cidades. A cidade está inserida num processo de constante reformulação de espaços e da imagem como um todo. Entre os traços, os símbolos, as intenções, há muitos acontecimentos, muitas transformações. Assim considerando, os prédios, as ruas, os elementos estruturais da cidade vão se readequando e reorganizando dentro deste dinamismo.
A estação ferroviária se situa em posição geográfica privilegiada tanto considerando o plano da cidade como pela sua presença absoluta numa área aberta, que sofre interferências em seu entorno pelas relações comerciais da região. A volumetria e a plástica do edifício de linhas art déco transferem-lhe um valor monumental, marcado profundamente pela história do lugar, pelas transformações da política, da cultura e da própria sociedade.
O que ocorre, por muitas vezes, é o esquecimento de valores sociais, políticos e históricos. Se cultura é estabelecer as relações de um povo com um determinado lugar, de um povo com um determinado meio de expressão e as formas como se organizam, comunicam, manifestam ou relacionam, se faz necessário estabelecer maneiras de resgatar e preservar a memória de um lugar, de uma cidade.
A estação ferroviária merece consideração pela importância que a obra exerceu na cidade como ponto principiante, como cenário de acontecimentos cotidianos, como elemento participante da história da cidade e como elemento monumental, como parte da paisagem da cidade, da transformação de uma cidade que emergia do papel, do traçado do arquiteto. Planejar é dar partido, é possibilitar algumas direções, mas não é, de fato, impor. A estação se modificou, se adaptou, resistiu ao longo do tempo e está lá para ser apropriada, desvendada. Necessário se faz conhecer o passado para que, no presente, possamos elaborar um futuro melhor.

Monumento às três raças: análise e crítica





por Laís Midori Shiraishi

Carlos Eduardo Dias Comas, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que a crítica como arquitetura é um ofício. Para ele a arquitetura está diretamente ligada a crítica, pois esta é a base para apresentar o conteúdo do projeto para um determinado público, é a ligação entre as idéias teóricas e a construção do projeto na prática. Baseado nisso comentarei e criticarei o espaço central da cidade de Goiânia, mais precisamente a Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, mais conhecida com Praça Cívica, e suas principais obras arquitetônicas, com destaque para o Monumento às Três Raças. Antes de tudo apresentarei resumidamente a história, o desenvolvimento e as mudanças tratadas dentro do local da Praça Cívica.
A Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, considerada um marco inicial da construção de Goiânia, foi criada em 1933. É assim nomeada devido à homenagem ao fundador da cidade. Considerado um local de grande movimento devido às grandes avenidas Araguaia, Tocantins e Paranaíba, é composta pelos Palácios das Esmeraldas (sede do governo estadual), Palácio de Campinas (sede do governo municipal), Palácio Pedro Ludovico Teixeira (responsável pela administração financeira do Estado) e Museu Zoroastro Artiaga.
O centro da praça abriga o Monumento às Três Raças, esculpido em bronze e granito pela artista Neusa Morais em 1968. Esse monumento é uma homenagem à miscigenação entre as etnias branca (representada principalmente pelos bandeirantes), negros (representada pelos antigos escravos) e indígena, que deram origem ao povo goiano. A sociedade goianiense foi formada com a vinda dos bandeirantes e escravos a procura de ouro, somada aos povos indígenas aqui já existentes. Por isso essa grande miscigenação aparece como característica marcante da região central do Brasil.
A escultura possui 7 metros de altura e massa de 300 quilogramas e apresenta características da arte moderna. Na estaca de granito que as estátuas de bronze erguem está incrustado o brasão da cidade, um elemento que traz a relevância a essa homenagem à formação do povo goianiense.

A localização da escultura em uma área relativamente ampla, sem uma carga pesada de edifícios próximos, é um ponto positivo para que haja um destaque para a visão do observador sobre a obra escultural. Outro ponto que favorece esse direcionamento do olhar do cidadão é a elevação da escultura sobre uma plataforma com uma elevação considerável. Porém, esse destaque que a obra apresenta no local tem sido discutido por alguns críticos. Para alguns arquitetos essa escultura obstrui a vista principal que o eixo da Goiás proporciona do Palácio das Esmeraldas, questão que levou a uma equipe de pessoas a propor uma relocação do monumento para a Praça dos trabalhadores. Outra justificativa adotada por essa equipe é a questão de que o monumento tem um valor muito mais simbólico para os trabalhadores, devido a essa representação de um esforço, um trabalho, uma construção que os três homens representam.
O monumento, apesar de sugerir uma união entre as raças ao mostrar que os três homens se juntam em prol de um objetivo único, qual seja, de levantar a coluna, mostra as diferenças étnicas presentes principalmente no passado anterior à abolição da escravatura. Essas diferenças podem ser perceptíveis quando se nota a diferença no vestuário de cada personagem esculpido. O homem branco aparece com uma calça comprida enquanto que o negro encontra-se vestindo uma calça arregaçada à altura dos joelhos e o índio surge praticamente nú. Outra sugestividade apresentada na escultura é a idéia de que o homem branco tem um poder maior, é mais forte que os demais por estar visivelmente na obra realizando um esforço maior devido à coluna estar mais inclinada para ele e a necessidade de seu próprio corpo estar mais inclinado a fim de suportar a estaca.
Mas todo esse preconceito, antes mais marcado, tende a diminuir, pois hoje os negros e os indígenas já estão inseridos na sociedade de uma forma bem mais igualitária que naquela época. A evolução dos fatos urbanos fez com que a cultura, a ideologia, o pensamento da população em geral mudasse consideravelmente nos dias de hoje.
Os monumentos são rejeitados por alguns arquitetos devido ao fato de que grande parte deles não é funcional, isto é, não carregam uma função de moradia, apenas de apreciação da beleza da obra. Porém muitos monumentos possuem uma carga funcional além da apreciatividade, chamados de trans-funcionais, como as catedrais, e até mesmo podem possuir uma carga cultural, denominados trans-culturais, como os túmulos. Além disso, muitos deles simbolizam uma história, um acontecimento que marcou a cidade de alguma maneira, sendo importante na cristalização do acontecimento através da criação do monumento e fornecendo à população uma cultura maior sobre os fatos a que a obra se refere. Não apenas isso, os monumentos podem representar os marcos da cidade, uma atenção maior para a região apenas para o apreciamento da beleza da obra, e até mesmo, dependendo da grandiosidade, ela pode servir como uma atração turística para a cidade. Bibliografia
*http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4783359T1
*http://www.goiania.go.gov.br/html/principal/goiania/monumentos/tresracas.shtml
*http://www.webventure.com.br/multimidia/fotos/foto_45473_2007-08-08_grande.jpg
*http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst16/inst016%20trabalhadores.asp
*AMARAL, Camilo. O Papel da Crítica na Arquitetura
*LEFEBVRE. Da Cidade à Sociedade Urbana

O Elemento Arquitetônico como símbolo

por Mariana Vilela Del´Acqua

A cidade, como qualquer outro espaço arquitetônico, é composta por diversos elementos e dividida em uma infinidade de partes. Elementos e partes essas que não têm sua origem e evolução de maneira aleatória; existe uma razão para cada forma, dimensão e detalhe, visando o suprimento de uma necessidade que se modifica de acordo com o contexto no qual cada elemento e parte estão inseridos. A partir desse princípio é possível compreender melhor cada edifício e as razões que o fizeram adquirir configurações diferentes durante sua história até chegar á sua configuração atual. Tomarei como referência a Bastilha de Paris, que retrata de forma clara o que foi exposto acima.
Sua configuração inicial modificou-se de forma marcante no decorrer da história á medida que as necessidades da cidade na qual está inserida foram transformando-se.
Logo após sua construção, que ocorreu durante a Guerra dos Cem Anos, a Bastilha funcionava como um portal que dava acesso ao bairro de Saint-Antonie. Depois, sofreu modificações para servir de fortaleza, protegendo o poder real de possíveis ataques e adquirindo um significado psicológico bem mais marcante que o anterior, quando funcionava como um portal. Assim, qualquer dano causado á construção de simbolizava a proteção ao rei, era interpretada como um dano á essa proteção e á conseqüente estabilidade real no poder. Porém. Foi depois do fim da Guerra dos Cem Anos, principalmente durante o reinado de Luís XVI que a Bastilha adquiriu sua função mais conhecida, e seu significado psicológico mais forte, funcionando como uma prisão e portanto, simbolizando toda a dor, revolta e opressão sofrida pelos prisioneiros por parte do poder real. A partir daí, sua queda simbolizaria o fim de um período marcado por mortes horríveis em calabouços e por abusos de poder. E foi o que ocorreu em 14 de julho de 1789, quando rebeldes souberam que lá estava depositada pólvora e para lá dirigiram-se, saqueando-a.
Nesse período a Bastilha era utilizada mais como armazenamento de armas do exército do que como uma prisão, mas ainda sim simbolizou a queda do poder real.
A partir desse exemplo fica fácil perceber que cada elemento da cidade é composto por um aspecto histórico, geográfico e social e juntos irão definir sua função e o sentimento que aquela construção causa àqueles que a visitem.

A cultura em transformação: o passado no presente

















por Ângelica Carvalho Bandeira


“O mundo de hoje nos oferece novas possibilidades. Este grande vocabulário humano pode ser enriquecido por elementos que nunca estiveram juntos no passado. Cada raça, cada cultura pode trazer sua própria palavra para uma frase que una a humanidade”.

Tomando por base essa citação de Peter Brook e baseada na principal obra de Aldo Rossi, A arquitetura da cidade, assim é possível declarar que o monumento, como “elemento urbano visível e constante no tempo”, ao acelerar a dinâmica urbana fixando e fortalecer o espaço,determina em torno de si um ambiente de associações e contrastes, proporcionando a coexistência de diferentes tempos (presente e passado) em um mesmo núcleo urbano. Promovendo também, a recuperação da dimensão arquitetônica e urbanística das cidades, além da preservação do centro histórico, inserido no espaço e na vida urbana moderna.

Nesse contexto, localizado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, antiga Praça Cívica, o Monumento às Três Raças é o marco central de Goiânia, sendo exibido como cenário nas fotografias dos turistas. Sua presença-física e simbólica- se torna exemplo da preocupação da sociedade em preservar a memória e a tradição da cidade (e de seus habitantes).

Ao projetá-lo, em 68, a artista plástica Neusa Moraes simbolizou a miscigenação do branco, do negro e do índio, presentes na formação das características genéticas e culturais do povo goiano.

A praça fica no centro da cidade, onde partem as principais avenidas (Goiás, Tocantins, Araguaia, 83, 84, 85 e 90) e bem em seu meio, de forma perceptível, está à escultura com sete metros de altura, uma estrutura fundida com trezentos quilos de bronze e na estaca de granito do bloco que se ergue está inserido o brasão da cidade. Nesse espaço público, também está situado o Coreto e o famoso Relógio da Avenida Goiás.

Ainda revelando a composição do plano de fundo do monumento, existem vários prédios em estilo art-déco, dos anos 40 e 50, como o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual; Campinas, sede do governo municipal de Goiás; o Palácio Pedro Ludovico Teixeira; o Museu Zoroastro Artiaga, entre outros, de forma a contribuir como contraste e para a associação histórica da cidade.

O marco que representa a formação do povo goiano e a vida da capital de Goiás, então, serve como referência de percurso, contudo, de forma mais relevante, oferece a consciência cultural, social e histórica como testemunho autêntico da criação humana. Sendo, o palco do Batismo Cultural da Cidade, em 05 de julho de 1942,a antiga praça cívica também serve como local - por ser evidência absoluta do passado- para manifestações artísticas, culturais e políticas, como por exemplo, de trabalhadores e estudantes.

No entanto, além do significado expressivo que mostra vínculo direto com o ser humano, a escultura também apresenta características marcantes que valorizam a estrutura e a forma física do elemento. Sendo que, a história e o valor simbólico ligada a ela só lhe conferem maior importância como monumento.

Suas características físicas como a singularidade, o aspecto único, o contorno e dimensão dominantes, a estética formal e seu valor estilístico proporcionam memoravelmente para a comunicação visual, a imageabilidade e a experiência estética. Além, também de promover a imaginação e memória coletiva como caráter típico do fato urbano - definido, segundo Rossi, como espaços que por serem únicos constituem a cidade.

Nesse sentido, cabe ressaltar a análise do monumento como imagem em que os três seres humanos representam a miscigenação das três etnias (branca, negra e indígena) que deram origem aos goianos. Além disso, que as posições naturalistas desses elementos demonstram a dedicação que tiveram ao erguerem o bloco (com o brasão de Goiânia). Figurativamente significando, o trabalho do povo goiano em constituir e construir a cidade.

Por tudo isso, a natureza característica e caracterizante do Monumento às três raças são indicadoras de identidade revelando a conservação da dimensão urbanística e o caráter histórico-arquitetônico de Goiânia, enriquecendo assim a cidade e demonstrando a sua cultura em transformação.


Bibliografia

AMARAL, Camilo Vladimir de Lima. O Papel da Crítica na Arquitetura.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Tradução por Eduardo Brandão. -São Paulo: Martins Fontes, 1995.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Tradução por Jefferson Luiz Camargo. -São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. UNIRIO. Centro de Letras e Artes. Departamento de Teoria do Teatro. Crítica Teatral Ensaística (CTE - 2008.1). Ensaio Crítico. [online] Disponível na Internet via WWW: HTTP://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha105.asp

2008 TOPGYN. Monumentos. [online] Disponível na Internet via WWW: HTTP://www.topgyn.com.br/conso01/goias/conso01a05. php

Secretaria Municipal de Turismo. Monumentos. [online] Disponível na Internet via WWW. URL: HTTP://www.turismogoiania.com.br/index. php?option=com_content&task=view&id=20&Itemid=25