sábado, 13 de junho de 2009

Estado: cumprindo obrigações ou seguindo interesses?




Por Geovanna Messias Pires da Silva

Desde tempos remotos, a cidade é tida como a busca por um lugar ideal, lugar este idealizado, mas impossível de ser realizado. Uma cidade ideal é caracterizada por uma cidade pensada apenas por um artista, um único idealizador, que trabalha suas estruturas urbanas; no entanto, com o desenvolvimento de tecnologias industriais e o crescimento acentuado desse setor, torna a cidade um lugar nada convencional do ideal, ou seja, um lugar planejado de acordo com as necessidades do momento.
As cidades são vistas como uma obra de arte, pensadas por filósofos e desenvolvidas para o povo, e posteriormente tomadas e organizadas pelo estado, não mais de acordo com o povo, mas de acordo com o crescimento do pequeno grupo que dele se sobressai e por quem o governo mais se interessa.
A cidade de Goiânia, por exemplo, foi criada para ser uma cidade ideal. Teve toda a sua região cuidadosamente planejada e feita de acordo com o desenvolvimento da cidade na época, se preocupando com futuros acréscimos de pequena dimensão. O que podemos levar em consideração para buscar as vertentes filosóficas e ideais da cidade são as diferenças entre os bairros, levando em consideração a preocupação do governo em beneficiar mais pessoas de um grande poder aquisitivo do que os bairros periféricos.
As regiões sul e oeste, mais centrais da capital goiana, que engloba principalmente os setores Oeste, Sul, Bueno e Marista, concentram em sua maioria as famílias tradicionais da cidade, sendo assim beneficiados pelo estado. Os parques, as vias e até a distribuição das redes de esgoto e energia são favorecidas. Mesmo sendo fato que aquela região é uma área central da cidade, onde circula um grande número de pessoas todos os dias, é uma região mais bem abastecida pelo governo.
Outra região que vem se destacando é o Jardim Goiás, que já era valorizada pelo fato do maior centro de compras do estado estar localizado lá e ser um local com alto custo de vida; mas foi graças à criação de um novo parque pelo governo que a região abriga hoje um grande número de construções de edifícios habitacionais, o que demonstra que as empresas privadas foram de certa forma, manipuladas pelos interesses estatais de desenvolvimento.
O mesmo acontece com os condomínios fechados, áreas habitacionais reservadas, que se localizam em sua maioria fora da região central da cidade. Exemplo dessa beneficiação foi a tentativa de transferência do local de uma festa já tradicional em Goiânia do Autódromo para um local mais distante de “áreas residenciais” (extinto CarnáGoiânia x Alphaville Flamboyant).
Já as regiões menos abastadas da cidade, ou seja, com menor importância para o estado, são muitas vezes esquecidas. As vias são ruins, acontecem cortes freqüentes de água e energia, além de fornecerem más condições para os cidadãos (falta de segurança, mau funcionamento de hospitais públicos ou até mesmo a ausência deles, entre outros). As regiões mais atingidas pelo descaso público são aquelas localizadas ao norte da cidade.

Com esse exemplo de nossa história e de nosso quotidiano, podemos ver como a má filosofia difundida pelos pensadores contemporâneos para inspirar e influenciar arquitetos e urbanistas da atualidade, unida à idéia uma cidade ideal, nos leva até a criação da nossa cidade real, criada em cima dos interesses de órgãos estatais em beneficiar uma parte da população que lhe interessa. A cidade, então, é uma obra de arte moldada de acordo com os interesses dessa minoria que detém a responsabilidade de organizá-la.

2 comentários:

  1. Otimo texto...Parabens Geovanna, so uma pequena ressalva...
    quando você diz "demonstra que as empresas privadas foram de certa forma, manipuladas pelos interesses estatais de desenvolvimento.", podemos considerar tambem a possibilidade de o estado ser manipulado pelas empresas privadas...o que não e raro...
    Ahh e concordo com vc sobre os condominios horizontais, mas acredito que as regioes perifericas (que estao ao lado desses empreendimentos) são indiretamente beneficiadas (ate mesmo com subempregos..)
    =P

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  2. Muito bom seu texto! Não sabemos se os parques que atraem os investimentos imobiliários ou se estes que atraem os parques.

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