segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uso e desuso do Parthenon Center


Por: Marilia Milhomem Pereira

As cidades não-planejadas e até as planejadas, como Goiânia, se desenvolveram em torno de um núcleo pré-urbano. Com o desenvolver dessas cidades, onde estava esse núcleo pré-urbano, passou a se localizar o centro da cidade. Nesse processo evolutivo, o centro encontra-se em uma posição de destaque em relação às áreas periféricas. Em Goiânia não foi diferente.
Assim que Goiânia ‘’ficou pronta’’, ela dispunha de uma praça principal (Praça Cívica) que conectava várias vias importantes, e levava até o centro da cidade, (È assim até hoje) que na época concentrava as importantes atividades comerciais, os fluxos de pessoas, capitais e mercadorias. Essa importância econômica do centro caracteriza toda uma cultura da época em que tudo se resolvia naquela região, e essa cultura é refletida na arquitetura do entorno.
De acordo com Viollet-le-Duc, ‘’A arquitetura é uma criação humana baseada na aplicação de princípios que nasceram fora de nós, e de que nos aprimoramos por observação” Ou seja, toda a arquitetura dos edifícios encontradas no centro, são frutos de mentes humanas provenientes de observações criticas do espaço, buscando o aperfeiçoamento e o bem-estar da população. Para provar essa reflexão da dinamização do centro da cidade na sua arquitetura, basta olharmos para o edifícios lá construídos, iremos encontrar prédios comerciais, bancos, calçadas largas para a circulação das pessoas, pontos de ônibus etc.
Como a princípio a cidade foi planejada para determinado número de habitantes, e esse número foi ultrapassado, surgiram vários problemas na cidade. Entre eles o que mais afetou o centro, foi aumento no número de carros trafegando no mesmo local, sem as quantidades correspondentes de vagas para estacionamento. As conseqüências de um problema desses para o centro, são tremendas, economicamente falando. O fluxo de pessoas decresce bastante quando elas não se vêem confortáveis com determinada situação.
O que fazer diante de uma situação como essa, onde o centro da cidade é pensado para acomodar determinada função e determinado numero de carros, e acaba extrapolando do plano previsto? A solução para o problema se concentra na mão dos arquitetos, e estudiosos da causa, que a partir de uma análise do problema, mostrarão as soluções.
No caso em questão, em que havia mais carros do que vagas disponíveis, surgiu a proposta da criação de um Edifício-Garagem, o chamado Parthenon Center, localizado na Rua 4, Setor Central. Esse edifício construído em 1974, foi uma inovação na cidade de Goiânia, ele agregava inúmeras vagas para estacionamento, e estas ficavam dispostas em vários pavimentos, e também possuía várias salas para fins comerciais. Com isso, o edifício ganhou seu caráter de estacionamento verticalizado e moderno.
Edifícios-garagens como esse, já haviam surgido fora do Brasil e dentro também, mais precisamente em São Paulo. Esse tipo de construção atingiu os objetivos previstos pelos arquitetos, ou seja, conseguiu armazenar em um mesmo local, vários carros que ficavam rondando pelo centro em busca de um estacionamento, até a desistência. Esteticamente falando, não é possível definir o edifício-garagem como bonito ou feio, mas dá para taxá-lo como inovador e funcional para a época, afinal, quando olhado de longe, são vistos vários carros em diferentes andares, provocando uma composição visual bem atípica para o início dos anos 70.
Mesmo com toda sua inovação e originalidade, o Parthenon Center foi entrando em decadência devido ao comum processo que a maioria das cidades grandes sofrem, a desvalorização do centro. Como o dinamismo do Centro foi cessando, e outras formas de garagens comuns tinham surgido, o Parthenon deixou de ser tão funcional como outrora, passando a ser apenas um fragmento de uma arquitetura, uma referência, e até um marco. Hoje em dia, ele agrega as mesmas funções de antes, possui as salas, e possui o estacionamento, o problema é que o número de adeptos daquilo que tinha sido inovação, caiu drasticamente, e aquele tipo de estacionamento passou a ser visto como algo anti-prático para a realidade do atual centro de Goiânia.
É bem complicado se criar uma obra arquitetônica que não vá cair em desuso, que não vá deixar de atender às necessidades sociais, históricas e ambientais, mas é para isso que existe a arquitetura, para que, baseado na crítica daquilo que existiu e falhou, algo novo possa surgir. No caso do Parthenon Center, já sabemos que hoje em dia não seria mais viável a construção de Edifícios-garagens no centro de Goiânia, pois a realidade é totalmente outra. Existem estacionamentos rotativos por toda a parte, garantindo a praticidade para aquele que vai ao centro numa visita rápida.
O que tem que ficar claro, é que essa afirmação de que hoje em dia esse mecanismo não daria certo, também não se trata de uma verdade absoluta. Cada cidade dispõe de uma situação específica, e a mesma cidade pode sofrer alteração, tanto rumo ao progresso, quanto ao regresso. Com a atual proposta de revitalização do Centro de Goiânia, quem sabe o Parthenon volte a seus tempos de glória, já que o número de carros voltará a aumentar. Isso só dependerá de que forma essa revitalização se dará, se for bem planejada, ela trará soluções para o estacionamento dos carros. Como uma padronização, ou seja, teria que ser definido se é mais viável a construção de outros Edifícios-garagens, como o Parthenon, ou a criação de outras formas de estacionamentos rotativos, como os de lotes, ou até subterrâneos.
Edifícios como esse em discussão, tornam-se marcantes em uma cidade, eles representam o modo de viver, as formas e memórias daquelas pessoas que residem naquela cidade, e que tem contato com aquele edifício, mesmo que visual.

Um comentário:

  1. Muito boa a sua análise da funcionalidade que o Parthenon Center perdeu. Mesmo com a desvalorização do estacionamento ele ainda concentra lojas e serviços.
    Parabéns!!

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