sábado, 13 de junho de 2009

Símbolo, representação e admiração






Por Ana Stéfany da Silva Gonzaga


Cada cidade tem seu perfil. O cotidiano dos seus habitantes molda a identidade que difere um lugar de outro. Não só o cotidiano, como também condições territoriais, históricas, físicas, políticas, religiosas e tudo o que caracteriza uma terra. Nas (grandes) cidades atuais é comum, porém, que se perceba situações que trazem medo, angústia, aflição, restrições e inseguranças àqueles que têm de enfrentar a violência, o trânsito caótico, a miséria (mesmo que alheia), enfim, a insegurança presente num lugar de viver.
Sendo assim, muitas pessoas se limitam diante dessas mazelas, o que as leva a uma vida mais restrita, menos prazerosa. A cidade parece menos agradável e os espaços de tranqüilidade, raros. Não que faltem ambientes de lazer, ao contrário, eles existem e são de grande importância a todos.
A cidade do Rio de Janeiro explicita bem esse fato: o caos urbano é fruto de fatores diversos como o abandono da cidade pela prefeitura. O intenso tráfico de drogas coloca a população entre uma verdadeira guerra entre policiais e bandidos. Seqüestros, assassinatos, assaltos são constantes. A saúde pública também é um sistema deficiente. Problemas como esses amedrontam e deixam alarmada a vida, não só no Rio, mas em muitas outras cidades, que apresentam situações semelhantes.
No entanto, mesmo com tamanhas dificuldades, o meio urbano não é feito somente de desastres. Todos esses males juntamente aos anseios e esperanças da sociedade podem ser representados na própria arquitetura da cidade. Esta pode, ainda, servir de apoio através de figuras que influenciem esse desejo de mudança, de melhoria.
No Rio, o Cristo Redentor é a maior forma de refúgio dos cariocas. Para muitos, ele é muito mais que um monumento, ele traz emoções quase que inexplicáveis aos seus observadores. Isso, presente também naqueles que vivem em outras cidades e, até mesmo, em outros países.
O monumento se localiza no topo do Morro do Corcovado. Símbolo do Cristianismo, ele se coloca, sobre a baía de Guanabara, como protetor do Rio. Para quem já esteve nesse espaço sabe que a emoção da grandiosidade da representação de Deus e da espetacular vista da Cidade Maravilhosa. Do Corcovado pode-se ver as suntuosas praias de Ipanema, de Copacabana, a baía de Guanabara e todo o esplendor da cidade e seus edifícios. A subida ao morro é também m passeio ecológico: dentre outras formas de locomoção, o trem atravessa o Parque Nacional da Tijuca e parte da Mata Atlântica. Já nesse momento, o visitante é levado a situações de descontração, de contato com a natureza, uma fuga do cotidiano tenso comum nas grandes cidades.
É notável, então, como um elemento da cidade pode interferir de forma tão forte na vida de muitas pessoas, como também na imagem da cidade. O Cristo Redentor é um marco na cidade: ele é tido como auxílio para referências, pode ser visto através de diversos ângulos. No campo mundial, ele simboliza a cidade e também o país, servindo de ícone. O monumento é cartão-postal da cidade. Grandes nomes da música brasileira, inúmeras vezes, o homenagearam. Alguns deles: Corcovado, de Tom Jobim; Expresso 2222, de Gilberto Gil; Las Muchachas de Copacabana, de Chico Buarque; Os Passistas, de Caetano Veloso; Samba do Avião, de Tom Jobim; Um Trem para as Estrelas, de Cazuza; Realidade Virtual, de Engenheiros do Hawaii; Alagados, de Paralamas do Sucesso.
Ele marca um importante trabalho da engenharia civil brasileira. Erguido em concreto armado e revestido de pedra-sabão (esta, originária do próprio Morro do Corcovado). O autor do projeto é o engenheiro Heitor da Silva Costa, contribuíram na construção o artista plástico Carlos Oswald, que fez o desenho final, e o escultor Paul Landowski, executor dos braços e do rosto na obra. O monumento do Cristo Redentor é tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional). Em 07 de julho de 2007 foi nomeado como uma das novas Sete Maravilhas do Mundo. Inaugurado em 12 de outubro de 1931, está a 709 metros acima do nível do mar, o monumento possui 38 metros de altura, sendo 8 metros de pedestal.
O simbolismo do Cristo Redentor nasce também desse conjunto de sentimentos (esforços, reflexões, vontades), que estão diretamente ligados à realidade. No entanto, não representa uma unidade: há contradições. Já que cada pessoa, cada comunidade e cada nação têm um perfil, existem aqueles que interpretam a construção de outras maneiras. Nesse caso, líderes de uma igreja protestante tentaram impedir que fosse realizada a obra. Eles alegaram ser uma idolatria à Igreja Romana e não exatamente a Jesus Cristo. No entanto, muitos outros protestantes visitam, respeitam e admiram o monumento.
Percebe-se, então, que um elemento da cidade, por mais grandioso, admirado e reconhecido que seja, está sujeito a aversões. Uma coisa de suma importância a uma pessoa pode não fazer o mesmo efeito em outras. Daí é que aparecem os questionamentos que servem como definidores do que pode ser bom ou ruim dentro de determinada situação, ou seja, através de críticas, as opiniões podem ser reformuladas e, assim, vão se formando as mudanças que transformam a cidade.
O Rio de Janeiro precisa, justamente, desse espírito e dessa vontade de melhorar. Precisa superar as dificuldades sem colocar tudo nas mãos do governo: cada cidadão deve pensar a cidade e analisá-la, para então identificar o que ajuda e o que atrapalha nessa busca por crescimento. Isso, valendo também para toda e qualquer pessoa em toda e qualquer cidade.
Um monumento pode não ter o poder de definir a cidade na qual se localiza, mas pode ser instrumento de grande influência nesse caráter. Ele pode revelar as diferenças entre coisas como cidade e natureza, ser e pensamento; trazendo, então, uma gama de reflexões, idéias, conclusões e transformações no modo de viver das pessoas. O primeiro passo para isso é o ato de questionar, de pensar os pontos positivos e os negativos, de dar sugestões, enfim, de participar da construção de um espaço.



Referências: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristo _Redentor
http://www.corcovado.org.br/#
LEFEBVRE. A filosofia e a cidade

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