terça-feira, 19 de maio de 2009

A cultura em transformação: o passado no presente

















por Ângelica Carvalho Bandeira


“O mundo de hoje nos oferece novas possibilidades. Este grande vocabulário humano pode ser enriquecido por elementos que nunca estiveram juntos no passado. Cada raça, cada cultura pode trazer sua própria palavra para uma frase que una a humanidade”.

Tomando por base essa citação de Peter Brook e baseada na principal obra de Aldo Rossi, A arquitetura da cidade, assim é possível declarar que o monumento, como “elemento urbano visível e constante no tempo”, ao acelerar a dinâmica urbana fixando e fortalecer o espaço,determina em torno de si um ambiente de associações e contrastes, proporcionando a coexistência de diferentes tempos (presente e passado) em um mesmo núcleo urbano. Promovendo também, a recuperação da dimensão arquitetônica e urbanística das cidades, além da preservação do centro histórico, inserido no espaço e na vida urbana moderna.

Nesse contexto, localizado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, antiga Praça Cívica, o Monumento às Três Raças é o marco central de Goiânia, sendo exibido como cenário nas fotografias dos turistas. Sua presença-física e simbólica- se torna exemplo da preocupação da sociedade em preservar a memória e a tradição da cidade (e de seus habitantes).

Ao projetá-lo, em 68, a artista plástica Neusa Moraes simbolizou a miscigenação do branco, do negro e do índio, presentes na formação das características genéticas e culturais do povo goiano.

A praça fica no centro da cidade, onde partem as principais avenidas (Goiás, Tocantins, Araguaia, 83, 84, 85 e 90) e bem em seu meio, de forma perceptível, está à escultura com sete metros de altura, uma estrutura fundida com trezentos quilos de bronze e na estaca de granito do bloco que se ergue está inserido o brasão da cidade. Nesse espaço público, também está situado o Coreto e o famoso Relógio da Avenida Goiás.

Ainda revelando a composição do plano de fundo do monumento, existem vários prédios em estilo art-déco, dos anos 40 e 50, como o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual; Campinas, sede do governo municipal de Goiás; o Palácio Pedro Ludovico Teixeira; o Museu Zoroastro Artiaga, entre outros, de forma a contribuir como contraste e para a associação histórica da cidade.

O marco que representa a formação do povo goiano e a vida da capital de Goiás, então, serve como referência de percurso, contudo, de forma mais relevante, oferece a consciência cultural, social e histórica como testemunho autêntico da criação humana. Sendo, o palco do Batismo Cultural da Cidade, em 05 de julho de 1942,a antiga praça cívica também serve como local - por ser evidência absoluta do passado- para manifestações artísticas, culturais e políticas, como por exemplo, de trabalhadores e estudantes.

No entanto, além do significado expressivo que mostra vínculo direto com o ser humano, a escultura também apresenta características marcantes que valorizam a estrutura e a forma física do elemento. Sendo que, a história e o valor simbólico ligada a ela só lhe conferem maior importância como monumento.

Suas características físicas como a singularidade, o aspecto único, o contorno e dimensão dominantes, a estética formal e seu valor estilístico proporcionam memoravelmente para a comunicação visual, a imageabilidade e a experiência estética. Além, também de promover a imaginação e memória coletiva como caráter típico do fato urbano - definido, segundo Rossi, como espaços que por serem únicos constituem a cidade.

Nesse sentido, cabe ressaltar a análise do monumento como imagem em que os três seres humanos representam a miscigenação das três etnias (branca, negra e indígena) que deram origem aos goianos. Além disso, que as posições naturalistas desses elementos demonstram a dedicação que tiveram ao erguerem o bloco (com o brasão de Goiânia). Figurativamente significando, o trabalho do povo goiano em constituir e construir a cidade.

Por tudo isso, a natureza característica e caracterizante do Monumento às três raças são indicadoras de identidade revelando a conservação da dimensão urbanística e o caráter histórico-arquitetônico de Goiânia, enriquecendo assim a cidade e demonstrando a sua cultura em transformação.


Bibliografia

AMARAL, Camilo Vladimir de Lima. O Papel da Crítica na Arquitetura.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Tradução por Eduardo Brandão. -São Paulo: Martins Fontes, 1995.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Tradução por Jefferson Luiz Camargo. -São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. UNIRIO. Centro de Letras e Artes. Departamento de Teoria do Teatro. Crítica Teatral Ensaística (CTE - 2008.1). Ensaio Crítico. [online] Disponível na Internet via WWW: HTTP://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha105.asp

2008 TOPGYN. Monumentos. [online] Disponível na Internet via WWW: HTTP://www.topgyn.com.br/conso01/goias/conso01a05. php

Secretaria Municipal de Turismo. Monumentos. [online] Disponível na Internet via WWW. URL: HTTP://www.turismogoiania.com.br/index. php?option=com_content&task=view&id=20&Itemid=25



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